Monday, July 9, 2007

Paragem

Sabem que mais? Estou farta, e estou cansada. Preciso urgentemente de férias.
Eleições para a Câmara de Lisboa? Para quê? Deve haver uma jazida de petróleo no subsolo, para haver tantos candidatos a uma herança terríve, numa casa falida até ao miolo...
E o topete do ex-presidente que, se não ganhar, fica vereador, para "acabar a obra" que lá deixou: pudera, ficaram tantos negócios em suspenso... Haja vergonha, meus senhores! Aquilo só se resolve implodindo a dita câmara e começando tudo do princípio. É que os vícios já são tão antigos e enraízados, que qualquer novo presidente tem o campo minado. Porque quem mexe são os de baixo, e os intermédios. O presidente pode, ou não, colaborar, mas a teia estende-se na mesma, e é inelutável.
Já que tenho que votar, que seja num que fala como eu e com cujas posições me identifico (e não tem nada a ver compartidos): o Zé faz mesmo falta!! Não tem ar de senhor importante, fala com conhecimento de causa e, tendo estado lá dentro, deve saber muitas e boas histórias da CML! E não tem medo de falar e de denunciar, coisa que já vai sendo rara. Gosto de gente desassombrada.
Boas férias.

Sunday, May 6, 2007

A náusea continua...

Há muito que não escrevo, porque o tempo tem sido curto. Por isso, vou voltar um pouco atrás no tempo: nas férias da Páscoa, como de costume, fui viajar (que é uma coisa que eu adoro, é quase uma dependência...).
O pior é o regresso! Passo a explicar: gosto muito de voltar à minha casa, mas não ao meu país. Cá está a náusea! Digam lá se o caso é para menos: saio daqui para Itália - Florença, a mais bela, Bolonha, Veneza, para longe de tudo o que é rotina e mal-estar. Estou uma semana, gloriosa, sem notícias da Pátria. E, logo que me sento no avião de volta e me dão o jornal, verifico que em Portugal nada se passou, porque o assunto de primeira página continua a ser se o primeiro-ministro é, ou não engenheiro!! Irra, que é demais. Eu quero lá saber da vida do senhor, se é ou deixa de ser. Até agora, não era precisa habilitação específica para o cargo. Será que passou a haver? Em que é que contribui para a felicidade de nós todos saber se o homem é, ou não, engenheiro? Estou-me nas tintas. E penso: se não têm mais nada por onde lhe pegar, é porque ele deve estar no bom caminho na governação da Pátria. Senão, a oposição já tinha largado o osso... Sou completamente insuspeita, não conheço o senhor senão da TV e dos jornais, nem sequer o acho simpático. Mas é teimoso, o que para mim é um bom indicador. Tem só que saber rodear-se de gente competente nas diversas áreas e tomar as decisões mais acertadas e as que são necessárias.
E que não passam, certamente, por os alunos absentistas serem obrigados a fazer exame no fim do ano lectivo, claro. Só mesmo o mais completo desconhecimento do "terreno" por parte de quem toma estas decisões é que pode explicá-las.
O aluno abandona a escola em finais do 1º período, desconhece em absoluto as matérias que foram leccionadas e vai, todo airoso, apresentar-se a exame no final do ano (Educação Musical incluída...) Para já, não vai tal. Em segundo lugar, os professores, a quem já se pede tão pouco, vão ter que elaborar as provas de exame, fazer calendários para as mesmas, designar professores vigilantes e, tudo isto, para quê? Provavelmente, para ocuparem os seus tempos livres, porque alunos, nem vê-los.
É mesmo só mais um desabafo...

Tuesday, February 27, 2007

O deserto

Não sou "de missa", mas às vezes apetece-me ir à Igreja. Claro que não me serve uma qualquer: vou ao Campo Grande, porque ouvir o padre Feytor Pinto é um privilégio. Sentimo-nos numa aula, com um professor excepcional, que nos ensina sempre alguma coisa. O que ele consegue "tirar" dos textos que são lidos na missa é espantoso. E, no domingo passado, mais uma vez a minha expectativa não foi defraudada.
A propósito das tentações de Cristo pelo demónio, quando estava no deserto, e depois de passado a pente fino todo o texto, o padre Feytor Pinto demonstrou que as tentações deste mundo, que nos parecem muitas, se resumem a três (!): o Ter, o Poder e o Prazer. Tão simples! E como ele exemplificou bem estas tentações no mundo contemporâneo: o Ter - todos procuram ganhar o máximo, ter mais dinheiro que o vizinho, mostrar a sua capacidade económica, não olhando a meios para atingir este fim. As pessoas escollhem o caminho mais fácil, o que dá menos trabalho. E, se for preciso, metem uma cunha a alguém, para lhes facilitar o caminho. O Poder - nem é preciso falar no poder político, no autárquico. O exercício do poder encontra-se no dia a dia, nas relações familiares, no emprego, até nos grupos de amigos: quem manda em casa? Os filhos mandam nos pais? O chefe manda nos subordinados? Quem é o mentor do grupo? Finalmente, o Prazer - vivemos na era do imediatismo. O prazer é para já, temos que o encontrar a qualquer preço, deixámos de ter tempo para esperar por algo que nos dê prazer, tem que ser JÁ! E como os nossos jovens são bem o símbolo desta época...
Continuando: O mundo contemporâneo é um deserto (a ligação ao tempo que Cristo passou no deserto e onde foi sujeito às tentações, às quais resistiu, claro, ou não fosse ele o Filho de Deus): cada vez mais árido, no sentido literal, por obra do Homem, que vai destruindo tudo sem pensar nas consequências, senhor do seu imenso egoísmo (basta pensar no protocolo de Quioto e no seu incumprimento pelo país que mais polui, leia-se EUA); e no sentido figurado - neste deserto físico a solidão espalha-se, alastra qual mancha de óleo, sem obstáculos que a detenham. Temos cada vez mais gente só, que pensa encontar companhia mergulhando no tal prazer imediato. Quando a festa acaba, a solidão é maior ainda...E aumenta a falta de capacidade de amar. As pessoas tornaram-se egoístas: envolvem-se nas causas humanitárias, muitas vezes só para ficarem de bem com a sua consciência, para não se sentirem incomodadas. Não custa ajudar o Banco Alimentar Contra a Fome, porque os que têm fome não estão à nossa porta. Mas somos capazes de ter gente com fome de amor e de atenção bem perto de nós, e nem damos por isso.
Diz o padre Feytor Pinto que ser bom cristão não é ir à missa todos os domingos e comungar. Claro que não. Ser bom cristão é ser capaz de dar sem esperar receber nada em troca, ter atenção ao outro, estar disponível, ser honesto e leal, pensar mais nos outros que em nós (o jejum quaresmal passa por aqui, e não pela privação de comida...)
Vamos tentar inverter a desertificação deste nosso mundo dando um pouco de nós?

Tuesday, February 13, 2007

IVG

Por que será que as pessoas têm tão mau perder? Afinal, vivemos em democracia, ou não? Os defensores do Não têm uma péssima digestão, e é o mínimo que posso dizer! Estão agora tão preocupados com o SNS, que funciona tão mal, como é que se vai perder tempo com mulheres horríveis, que querem abortar? O melhor é deixar as crianças nascer de termo, em famílias muito numerosas e de poucas posses, ou de relações mal sucedidas, e sufocá-las à nascença, metendo-as dentro dum saco de plástico no caixote mais próximo... É, com certeza, mais cristão! Pelo menos, não abortaram.
Que hipocrisia, que cinismo! A decisão de abortar ou não é tão do foro íntimo de cada mulher que não é admissível que seja discutida na praça pública. Nenhuma mulher toma esta decisão sem sofrimento, ninguém aborta por gosto, a não ser que tenha uma qualquer perturbação mental. E as razões que levam uma mulher a tomar esta decisão têm normalmente que ver com o homem com quem gerou um filho. Homem este que NUNCA se assume, parece que o ser gerado foi de geração espontânea. Venha a primeira pedra lançada a um homem que tenha levado a sua companheira a abortar, porque não quer assumir a criança que aí vem! Os homens são tremendamente covardes nesta situação, mas são exactamente os homens que vemos dar a cara pelo Não e condenar "à fogueira" a mulher que abortou. O tempo das bruxas e da caça a elas parece estar já longe de nós, mas aproxima-se uma nova caça: vamos todos estar atentos para descobrir quem abortou/vai abortar, para que as boas consciências fiquem tranquilas. Foi tremendamente desonesto vender o boneco que era supostamente um embrião às 10 semanas: quem o fez, nunca viu um embrião com este tempo. Eu vi! E não era nem parecido. Depois, puseram a senhora de Fátima a chorar antes do tempo. Ela, a quem foi dada a graça de não ter estas preocupações terrenas, e que teve um marido a seu lado. Chama-se a isto manipulação de espíritos menos esclarecidos e chantagem emocional.
Com a vitória do Sim, ninguém é obrigado a abortar, como é óbvio, nem a ir contra as suas convicções. Afinal, somos livres, ou não? Imagino que preferiam, os homens e mulheres de classe média alta, votantes do Não, que as suas filhas e sobrinhas (ou mulheres) continuassem a ir às compras a Londres ou a Badajoz (mesmo ali ao lado), sem dar nas vistas, e pudessem resolver o problema higienicamente, quando algum azar lhes batesse à porta. Abrir essa possibilidade às "outras" custa muito, porque até parece que se perderam privilégios.
Uma IVG até às 10 semanas é rápida e barata, ocupa muito menos tempo e gasta muito menos dinheiro que resolver os casos de abortos mal sucedidos, quantas vezes com sequelas terríveis.
Pois é, por muito que custe aos do Não, ganhou o Sim!!!

Thursday, February 8, 2007

Náusea (III)

Hoje é dia de folga!! Quer dizer, a náusea diária não atacou tão forte. Depois de uma manhã tenebrosa de chuva, o sol brilha como se fosse Primavera. Só faltam mesmo os passarinhos. Para mim, durante muitos anos, esta estação era demasiado forte, dava cabo de mim. Agora, qualquer uma faz esse efeito, excepto o verão, em que consigo "esquecer" que o mundo em que vivo habitualmente existe...
Por que é que o bom senso se tornou um bem escasso? Porque é que as pessoas cuja vida é cinzenta, ou não têm vida própria, se alimentam da vida dos outros, estão sempre à espreita do mínimo deslize, da mínima dica, para construírem uma história? Que animador que é falar da vida dos outros!! Como conseguimos fazer de conta que temos uma vida melhor que a deles, como nos sentimos bem com o mal dos outros! Isto numa época em que tudo à nossa volta fala de solidariedade, de amor ao próximo (qual próximo? Que vantagem é que isso me traz?), de caridadezinha... O verdadeiro amor ao próximo é aquele que não vem no jornal, nem aparece na TV. É respeitarmos as opiniões e opções dos outros sem lhes pedir nada em troca, é ajudarmos quando precisam de nós sem pedir nada em troca senão lealdade (lá estou eu, já é uma fixação). E é agradecermos a ajuda que nos dão sem falsas humildades e sem pensar "Como é que eu vou tramar este fulano?"
Gostaria de pensar que o meu mundo não é uma utopia. Mas os factos gritam-me aos ouvidos: "Palerma, não vês que tens de aproveitar as oportunidades? Insinua-te, faz de conta que estás interessada, finge que admiras quem não merece, porque é medíocre. Talvez assim atinjas o cume da fama, os teus 10 segundos de glória!"
Mas a glória é mesmo vã. Lá vem o Camões "Ó glória de mandar, ó vã cobiça..." Meu Deus, como os nossos poetas são actuais.
Vejo as pessoas perderem o seu sentido de dignidade, não se importarem de expor a sua intimidade, contar e divulgar (por imagens) em público coisas que são só suas, e tudo para quê? Para serem famosas por dois dias ou ganharem não sei quantos euros em não sei quantos minutos. Que náusea!!

Sunday, February 4, 2007

Náusea (II)

Como se depreende, "roubei" o título a Jean-Paul Sartre, que em 1938 publicou "La Nausée". E, é fantástica a actualidade das suas palavras, e como elas se aplicam a mim: "Roquentin sente um profundo afastamento de tudo o que o rodeia" e "O meu pensamento, sou eu: eis por que não posso parar. Existo porque penso...e não posso impedir-me de pensar. Neste preciso momento...Se existo, é porque tenho horror de existir."
Claro que ainda não vou tão longe! Começa somente a repugnar-me o contacto com algumas pessoas, incomoda-me o facto de ter que me cruzar diariamente com elas, de ter, eventualmente, que falar com elas. É quase físico. O que me impede de lhes dizer o que penso? Exactamente o facto de partilharmos o mesmo espaço de trabalho, o que iria criar um clima insustentável (não sei para quem...)
Claro que não me coíbo de fazer os meus comentários, e todos os que me conhecem sabem o que penso sobre a actuação de muita gente (?!) Incomoda-me ver como tentam colmatar as suas falhas/os seus fracassos pessoais atacando os que se esforçam por fazer andar as coisas, tendo sempre um comentário cáustico e uma língua afiada para comentar o mínimo deslize dos outros. E perceber como não perdoam aos outros terem vida pessoal e serem felizes!
Os pensamentos atropelam-se na minha cabeça, tirando-me o sono. Leio o jornal, ouço as notícias, e tudo confirma o meu afastamento. Que faço eu no meio de tanta falta de vergonha, de tanto oportunismo? E os exemplos vêm de cima... Veja-se a Câmara de Lisboa: como é possível tamanha cara de pau? Uma pessoa honesta, quando injustamente acusada, trata de resguardar o seu bom nome, coisa que parece não ter qualquer importância hoje em dia, pois são os que perdem o bom nome numa situação que vemos catapultados para lugares mais importantes (e mais rentáveis) logo a seguir! Assobiam para o lado e esperam que a nuvem passe. Será que vai passar? SE calhar, sim.
A injustiça é, de facto, uma coisa que me afronta! Muito a propósito, leia-se a rubrica "Levante-se o Réu", de Rui Cardoso Martins, na Pública de 28 de Janeiro, intitulada "Direito a pensar e pneus"e a notável BD de Luís Afonso no SOL (sobretudo a de 3 de Fevereiro). E, já agora, porque será que a EMEL é tão solícita a multar um automobilista que ultrapassou o tempo de estacionamento, mas pagou, e nem se digna olhar para o carro que lhe está a impedir a saída, estacionado em segunda fila (e que não pagou, claro)?
Claro que uma andorinha não faz a Primavera. Mas continuo, contra tudo e contra todos, a defender os meus princípios e os meus valores, e a sentir-me um ET no meio da sociedade que me rodeia.

Friday, February 2, 2007

A náusea

Que cheiro tem o poder? Deve ser muito intenso, pois tudo à nossa volta parece girar em torno dele (poder). Fazem-se e desfazem-se amizades, traem-se amigos e companheiros de trabalho, arquitectam-se vinganças soezes, tudo em nome do tal poder. O problema é que esta sede corre toda a escala social e todos os cargos disponíveis: é preciso conhecer a pessoa certa, que nos leve a quem nos pode dar acesso à chave que há-de abrir o Eldorado! E, aí chegados, ponhamos então em prática os nossos planos e aproveitemos os cargos para levarmos a cabo as nossas pequenas vinganças.
Mas, afinal, o que é o poder? Será a "capacidade de agir sobre algo"? "A força política na sua relação com o cidadão"? "O exercício ou manifestação dessa força política"? Ou será antes "ter ocasião, oportunidade, influência ou força para..." Penso que estamos mais próximos desta última definição. Todos querem trepar a qualquer preço, esquecendo-se que não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo. Mas o tempo é longo...
Sou duma geração que foi criada nos valores da amizade, da franqueza, da lealdade, dos acordos de cavalheiros, em que a palavra de honra era importantíssima. Sou duma lealdade quase doentia, e não perdoo as faltas dela. E parece-me que, roubando o título a Ilse Losa, "o mundo em que vivi" desapareceu! E agora? À minha volta só vejo oportunismo da pior espécie, pessoas que espezinham os outros sem qualquer problema de consciência (o quê? o que é isso?), que cozinham vinganças mesquinhas, e tudo porquê? Umas, porque se recusam a aceitar que perderam uma eleição democrática, e tudo fazem para tentar destruir os que ganharam. Outras (a maior parte delas), porque são medíocres, e receiam que outros, que são competentes, possam pôr a nu as suas incapacidades, possam fazer-lhes sombra. E tratam de tecer teias difíceis de desenredar. Os que são honestos e têm princípios, lutam com todas as forças para provarem a sua razão, libertando-se da teia, mas os meandros da sociedade em que vivemos são complicados, e o tempo passa sem que justiça seja feita.
O que é lamentável nisto tudo é que, como eu dizia à minha filha pequenita, só nos livros e nos filmes é que os maus são castigados. É que, na vida real, tarde ou nunca vêm a sê-lo, ou então somos nós que desesperamos de ver chegada a hora de se fazer justiça.
Estou num dia em que a náusea que tem vindo a crescer dentro de mim já passou acima da boca. Suponho que haverá mais gente tão nauseada quanto eu. Aqui fica o desabafo!