Sunday, February 4, 2007

Náusea (II)

Como se depreende, "roubei" o título a Jean-Paul Sartre, que em 1938 publicou "La Nausée". E, é fantástica a actualidade das suas palavras, e como elas se aplicam a mim: "Roquentin sente um profundo afastamento de tudo o que o rodeia" e "O meu pensamento, sou eu: eis por que não posso parar. Existo porque penso...e não posso impedir-me de pensar. Neste preciso momento...Se existo, é porque tenho horror de existir."
Claro que ainda não vou tão longe! Começa somente a repugnar-me o contacto com algumas pessoas, incomoda-me o facto de ter que me cruzar diariamente com elas, de ter, eventualmente, que falar com elas. É quase físico. O que me impede de lhes dizer o que penso? Exactamente o facto de partilharmos o mesmo espaço de trabalho, o que iria criar um clima insustentável (não sei para quem...)
Claro que não me coíbo de fazer os meus comentários, e todos os que me conhecem sabem o que penso sobre a actuação de muita gente (?!) Incomoda-me ver como tentam colmatar as suas falhas/os seus fracassos pessoais atacando os que se esforçam por fazer andar as coisas, tendo sempre um comentário cáustico e uma língua afiada para comentar o mínimo deslize dos outros. E perceber como não perdoam aos outros terem vida pessoal e serem felizes!
Os pensamentos atropelam-se na minha cabeça, tirando-me o sono. Leio o jornal, ouço as notícias, e tudo confirma o meu afastamento. Que faço eu no meio de tanta falta de vergonha, de tanto oportunismo? E os exemplos vêm de cima... Veja-se a Câmara de Lisboa: como é possível tamanha cara de pau? Uma pessoa honesta, quando injustamente acusada, trata de resguardar o seu bom nome, coisa que parece não ter qualquer importância hoje em dia, pois são os que perdem o bom nome numa situação que vemos catapultados para lugares mais importantes (e mais rentáveis) logo a seguir! Assobiam para o lado e esperam que a nuvem passe. Será que vai passar? SE calhar, sim.
A injustiça é, de facto, uma coisa que me afronta! Muito a propósito, leia-se a rubrica "Levante-se o Réu", de Rui Cardoso Martins, na Pública de 28 de Janeiro, intitulada "Direito a pensar e pneus"e a notável BD de Luís Afonso no SOL (sobretudo a de 3 de Fevereiro). E, já agora, porque será que a EMEL é tão solícita a multar um automobilista que ultrapassou o tempo de estacionamento, mas pagou, e nem se digna olhar para o carro que lhe está a impedir a saída, estacionado em segunda fila (e que não pagou, claro)?
Claro que uma andorinha não faz a Primavera. Mas continuo, contra tudo e contra todos, a defender os meus princípios e os meus valores, e a sentir-me um ET no meio da sociedade que me rodeia.

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