Friday, February 2, 2007

A náusea

Que cheiro tem o poder? Deve ser muito intenso, pois tudo à nossa volta parece girar em torno dele (poder). Fazem-se e desfazem-se amizades, traem-se amigos e companheiros de trabalho, arquitectam-se vinganças soezes, tudo em nome do tal poder. O problema é que esta sede corre toda a escala social e todos os cargos disponíveis: é preciso conhecer a pessoa certa, que nos leve a quem nos pode dar acesso à chave que há-de abrir o Eldorado! E, aí chegados, ponhamos então em prática os nossos planos e aproveitemos os cargos para levarmos a cabo as nossas pequenas vinganças.
Mas, afinal, o que é o poder? Será a "capacidade de agir sobre algo"? "A força política na sua relação com o cidadão"? "O exercício ou manifestação dessa força política"? Ou será antes "ter ocasião, oportunidade, influência ou força para..." Penso que estamos mais próximos desta última definição. Todos querem trepar a qualquer preço, esquecendo-se que não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo. Mas o tempo é longo...
Sou duma geração que foi criada nos valores da amizade, da franqueza, da lealdade, dos acordos de cavalheiros, em que a palavra de honra era importantíssima. Sou duma lealdade quase doentia, e não perdoo as faltas dela. E parece-me que, roubando o título a Ilse Losa, "o mundo em que vivi" desapareceu! E agora? À minha volta só vejo oportunismo da pior espécie, pessoas que espezinham os outros sem qualquer problema de consciência (o quê? o que é isso?), que cozinham vinganças mesquinhas, e tudo porquê? Umas, porque se recusam a aceitar que perderam uma eleição democrática, e tudo fazem para tentar destruir os que ganharam. Outras (a maior parte delas), porque são medíocres, e receiam que outros, que são competentes, possam pôr a nu as suas incapacidades, possam fazer-lhes sombra. E tratam de tecer teias difíceis de desenredar. Os que são honestos e têm princípios, lutam com todas as forças para provarem a sua razão, libertando-se da teia, mas os meandros da sociedade em que vivemos são complicados, e o tempo passa sem que justiça seja feita.
O que é lamentável nisto tudo é que, como eu dizia à minha filha pequenita, só nos livros e nos filmes é que os maus são castigados. É que, na vida real, tarde ou nunca vêm a sê-lo, ou então somos nós que desesperamos de ver chegada a hora de se fazer justiça.
Estou num dia em que a náusea que tem vindo a crescer dentro de mim já passou acima da boca. Suponho que haverá mais gente tão nauseada quanto eu. Aqui fica o desabafo!

4 comments:

Anonymous said...

Parabéns pelo fantástico Blog!Apesar dos problemas técnicos, não é?
O texto está realmente muito bom. Gostei mesmo. Muito. Continua o óptimo trabalho!

Anonymous said...

gostei muito do seu blog. Continue

Anonymous said...

Voarão até que alguém lhes tire as asas... nunca mais chega esse dia?
Adorei como sempre a tua prosa! Continua, pois poucos são os que conseguem dizer muito em pouco espaço e tu nisso és brilhante!

Anonymous said...

"Deliciaram-me" estas tuas náuseas e, estou tentada a reforçá-las com "provérbios para gente culta".Aqui vão eles:"Tem o monarca no baixo ventre" (tem o rei na barriga)
"Quem movimenta os músculos supra faciais mais longe do primeiro, movimenta-os substancialmente em condições excepcionais" (Quem ri por último, ri melhor)